No texto de hoje, falarei do Estoicismo de Sêneca e como esse filósofo pode te ajudar a viver uma vida mais tranquila e melhor.
Em um texto anterior, falei sobre a importância do aprendizado e da leitura em nossa vida. Como ele complementa o texto de hoje, sugiro que você o leia também:
Quem foi Sêneca (e o que é Estoicismo)
Lúcio Anneo Sêneca, nascido por volta de 4 a.C, foi um dos filósofos mais conhecidos da Antiguidade Latina. Ele foi um rico homem de Roma, político e estadista, responsável por aconselhar o imperador.
Por se expor na vida política, Sêneca se envolveu em muitos problemas, chegando a ser exilado de Roma pelo imperador Cláudio. Após algum tempo, o filósofo voltou e ganhou a função de tutor de um jovem, filho de Agripina, sobrinha do Imperador.
Esse jovem era nada menos que Nero, que se tornou o famoso Imperador Louco de Roma. Durante a infância, Nero mostrava o “temperamento forte” que tinha, mas Sêneca conseguiu refreá-lo, mesmo após Nero ter se tornado imperador.
Entretanto, esse freio não durou por muito tempo e Nero passou a tomar decisões cruéis, para sua própria diversão. Sêneca foi acusado de conspiração contra Nero e, sem julgamento, recebeu a ordem de que deveria cometer suicídio.
Calmamente, o filósofo cortou os próprios pulsos e faleceu, seguindo sempre o Estoicismo.
Mas o que é essa filosofia?
O Estoicismo é uma filosofia antiga, praticada por nomes como Sêneca, o imperador Marco Aurélio e o ex-escravo Epicteto. Foi fundada por Zenão de Cítio, por volta do século III antes de Cristo, após observar conceitos da filosofia dos cínicos e de Sócrates.
A principal característica do Estoicismo, que cabe ser ressaltada aqui, é o fato de que os humanos não controlam tudo o que está em seu entorno. Ao contrário, a natureza exerce muito mais poder do que jamais poderíamos ter.
Assim, resta a nós controlar o que podemos e esquecer o que não podemos controlar, sempre mantendo a serenidade e a tranquilidade diante das adversidades.
(é evidente que essa não é a essência da filosofia estoica, que consiste em um tripé de física, lógica e ética. no entanto, esse é o ponto que irei ressaltar)
Sendo assim, com o contexto de uma vida turbulenta em mente (afinal, Sêneca foi exilado e forçado ao suicídio), trago 4 lições de Sêneca, baseadas em seu escrito Sobre a brevidade da vida, para que você viva uma vida boa e tranquila.
Primeira Lição — Você vai morrer, então não desperdice tempo
A obra, que é uma sequência de cartas dirigidas a Paulino, começa com o mais importante: a morte e a vida.
Sêneca nos diz:
A maior parte dos mortais, Paulino, lamenta a maldade da Natureza, porque já nascem com a perspectiva de uma curta existência e porque os anos que lhes são dados transcorrem rápida e velozmente.
O medo da morte e a tristeza de uma vida desperdiçada são características abundantes nos seres humanos. Tenho certeza que você já pensou “caramba, já tenho 20/40/50 anos! Como passou rápido…em breve, estarei morrendo”.
E a situação piora para aqueles que olham para trás e não enxergam nenhuma vida que valeu a pena ser vivida. Brigas, ingratidão, rancor e isolamento.
É por isso que Sêneca adverte, logo em seguida:
O medo da morte e a tristeza de uma vida desperdiçada são características abundantes nos seres humanos. Tenho certeza que você já pensou “caramba, já tenho 20/40/50 anos! Como passou rápido…em breve, estarei morrendo”.
E a situação piora para aqueles que olham para trás e não enxergam nenhuma vida que valeu a pena ser vivida. Brigas, ingratidão, rancor e isolamento.
É por isso que Sêneca adverte, logo em seguida:
Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela. A vida, se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade para a realização de importantes tarefas. Ao contrário, desperdiçada no luxo e na indiferença, se nenhuma obra é concretizada, por fim, se não se respeita nenhum valor, não realizamos aquilo que deveríamos realizar, sentimos que ela realmente se esvai. Desse modo, não temos uma vida breve, mas fazemos com que seja assim.
Você possui o controle sobre seu tempo. Você irá morrer logo. Então, viva a vida sabendo disso e verá que, ao contrário dos que passam os dias na indiferença, sua vida será longa.
Segunda lição — As coisas não são o mais importante
No capítulo III, o filósofo prossegue discorrendo sobre a vida e a morte, referindo-se ao tratamento que damos ao nosso tempo.
Você possui o controle sobre seu tempo. Você irá morrer logo. Então, viva a vida sabendo disso e verá que, ao contrário dos que passam os dias na indiferença, sua vida será longa.
Segunda lição — As coisas não são o mais importante
No capítulo III, o filósofo prossegue discorrendo sobre a vida e a morte, referindo-se ao tratamento que damos ao nosso tempo.
Nenhum homem sábio deixará de se espantar com a cegueira do espírito humano. Ninguém permite que sua propriedade seja invadida, e, havendo discórdia quanto aos limites, por menor que seja, os homens pegam em pedras e armas. No entanto, permitem que outros invadam suas vidas de tal modo que eles próprios conduzem seus invasores a isso. […] São econômicos na preservação de seu patrimônio, mas desperdiçam o tempo, a única coisa que justificaria a avareza.
Quantas vezes já brigamos por um desconto, por uma roupa, por um lápis ou mesmo por 5cm de terreno? A sua vida “curta” possui um tempo escasso. Ainda assim, você o divide a torto e a direito, sem pensar no que faz com ele.
Se você passa o dia em redes sociais, apenas rolando a tela, ou passa o dia jogando videogames ou mesmo dormindo, o que você terá para lembrar quando chegar a hora de ir?
Essa é a visão que você quer ter de si mesmo quando partir?
Não deixe que os invasores tomem seu tempo: você escolhe aquilo em que gasta ou investe seu tempo. Deixe de lado os invasores e tenha foco em seus objetivos.
E, no capítulo VIII, o filósofo complementa a ideia:
Quantas vezes já brigamos por um desconto, por uma roupa, por um lápis ou mesmo por 5cm de terreno? A sua vida “curta” possui um tempo escasso. Ainda assim, você o divide a torto e a direito, sem pensar no que faz com ele.
Se você passa o dia em redes sociais, apenas rolando a tela, ou passa o dia jogando videogames ou mesmo dormindo, o que você terá para lembrar quando chegar a hora de ir?
Essa é a visão que você quer ter de si mesmo quando partir?
Não deixe que os invasores tomem seu tempo: você escolhe aquilo em que gasta ou investe seu tempo. Deixe de lado os invasores e tenha foco em seus objetivos.
E, no capítulo VIII, o filósofo complementa a ideia:
Se pudéssemos apresentar a cada um a conta dos anos futuros, da mesma forma que se faz com os que já passaram, como tremeriam aqueles que vissem restar-lhes poucos anos e como o economizariam! Pois, se é fácil administrar o que, embora pouco, é certo, deve-se conservar com muito cuidado o que não se pode saber quando acabará.
Acima de tudo, não ache que o número de sua idade reflete a vida que você viveu. Uma pessoa de 50 anos pode ter passado a vida indiferente, entregue a “sofrimentos sem necessidade, tolos contentamentos, paixões ávidas, conversas inúteis”, como diz Sêneca.
Acima de tudo, não ache que o número de sua idade reflete a vida que você viveu. Uma pessoa de 50 anos pode ter passado a vida indiferente, entregue a “sofrimentos sem necessidade, tolos contentamentos, paixões ávidas, conversas inúteis”, como diz Sêneca.
Não julgues que alguém viveu muito por causa de suas rugas e cabelos brancos: ele não viveu muito, apenas existiu por muito tempo. Julgas que navegou muito aquele que, tendo se afastado do porto, foi pego por violenta tempestade e, errante, ficou à mercê dos ventos, ao capricho dos furacões, sem, no entanto, sair do lugar? Ele não navegou muito, apenas foi muito acossado. (grifo meu)
Faça como o filósofo e pergunte a si mesmo: o quão pouco te restou do que era teu?
A partir disso, ele diz:
Faça como o filósofo e pergunte a si mesmo: o quão pouco te restou do que era teu?
A partir disso, ele diz:
Compreenderás que morres cedo.
Terceira lição — Não espere pelo amanhã, porque será tarde demais
Ainda no capítulo III, o filósofo diz:
Terceira lição — Não espere pelo amanhã, porque será tarde demais
Ainda no capítulo III, o filósofo diz:
Ouvirás a maioria dizendo: “Aos cinquenta anos me dedicarei ao ócio. Aos sessenta, ficarei livre de todos os meus encargos”. Que certeza tens de que há uma vida tão longa? O que garante que as coisas se darão como dispões? Não te envergonhas de destinar para ti somente resquícios da vida e reservar para a meditação apenas a idade que já não é produtiva?
Grande parte da população brasileira precisa trabalhar arduamente para sobreviver com pouco. A falta de dinheiro e a instabilidade política influenciam nas condições de vida dessas pessoas.
Assim, elas trabalham grande parte do dia e, quando têm um tempo livre, apenas querem descansar deitadas no sofá ou na cama, esperando para que, infelizmente, o próximo dia comece tudo de novo.
Daí nasce a frase “quando me aposentar, minha vida será muito boa. Finalmente poderei descansar e fazer o que desejo”.
Mas quem garante que a vida chegará a esse ponto e, se chegar, quem garante que você terá a capacidade física e mental para isso?
O futuro é incerto e não temos como saber o que acontecerá. Sendo assim, não deixe para viver quando estiver perto da morte. Se você está acordado agora, você deveria estar vivendo agora. A vida começa assim que você abre os olhos, não daqui a 20 ou 30 anos.
Por mais puxada que seja sua rotina, busque viver no presente. Aproveite os momentos que você tem. Agradeça pelas coisas mais simples, como um copo d’água que você pôde beber.
Seu tempo é limitado e você não pode reservar a vida para quando se aposentar.
Quarta lição — Estar ocupado não é fazer algo útil
Sêneca, ao longo de toda a obra, critica aqueles que se dizem ocupados. Sempre sem tempo, sempre correndo, sempre ansiosos e estressados. “Vamos sair?”, alguém chama, e o ocupado responde “Não posso, estou ocupado, porque tenho que elaborar aquela apresentação e marcar a reunião de terça e verificar o balanço comercial e…”.
Sobre esse tipo de pessoa, o filósofo nos fala:
Grande parte da população brasileira precisa trabalhar arduamente para sobreviver com pouco. A falta de dinheiro e a instabilidade política influenciam nas condições de vida dessas pessoas.
Assim, elas trabalham grande parte do dia e, quando têm um tempo livre, apenas querem descansar deitadas no sofá ou na cama, esperando para que, infelizmente, o próximo dia comece tudo de novo.
Daí nasce a frase “quando me aposentar, minha vida será muito boa. Finalmente poderei descansar e fazer o que desejo”.
Mas quem garante que a vida chegará a esse ponto e, se chegar, quem garante que você terá a capacidade física e mental para isso?
O futuro é incerto e não temos como saber o que acontecerá. Sendo assim, não deixe para viver quando estiver perto da morte. Se você está acordado agora, você deveria estar vivendo agora. A vida começa assim que você abre os olhos, não daqui a 20 ou 30 anos.
Por mais puxada que seja sua rotina, busque viver no presente. Aproveite os momentos que você tem. Agradeça pelas coisas mais simples, como um copo d’água que você pôde beber.
Seu tempo é limitado e você não pode reservar a vida para quando se aposentar.
Quarta lição — Estar ocupado não é fazer algo útil
Sêneca, ao longo de toda a obra, critica aqueles que se dizem ocupados. Sempre sem tempo, sempre correndo, sempre ansiosos e estressados. “Vamos sair?”, alguém chama, e o ocupado responde “Não posso, estou ocupado, porque tenho que elaborar aquela apresentação e marcar a reunião de terça e verificar o balanço comercial e…”.
Sobre esse tipo de pessoa, o filósofo nos fala:
Se não tomas a iniciativa, o dia foge e, mesmo que o tenhas ocupado, ele fugirá. Assim, é preciso combater a celeridade do tempo usando a velocidade, tal como de uma rápida corrente, que não fluirá para sempre, se deve beber depressa. […] A velhice aflige tanto os seus espíritos infantis, que chegam a ela despreparados e desarmados. Na verdade, nada foi previsto: subitamente e sem estarem prontos chegam a ela, não percebendo que ficava mais próxima todos os dias.
A ocupação com coisas que não agradam a você mesmo não significa produtividade. Você pode passar 15 horas por dia ocupado e, ao chegar o fim do ano, olhar para trás e perceber que não fez nada.
É comum, com executivos ou trabalhadores, que olhem para trás aos 50 anos e vejam que toda a ocupação que tinham não resultou em nada. Anos e anos de trabalho, sacrificando a própria vida em prol de um suposto futuro melhor, para, quando chegar a determinada época, perceber que não se viveu.
Sêneca compara a vida a uma viagem em que lemos ou conversamos: quando nos distraímos, tudo passa rápido, sem que percebamos que a viagem já está no fim. Assim, o filósofo diz, criticando os ocupados:
A ocupação com coisas que não agradam a você mesmo não significa produtividade. Você pode passar 15 horas por dia ocupado e, ao chegar o fim do ano, olhar para trás e perceber que não fez nada.
É comum, com executivos ou trabalhadores, que olhem para trás aos 50 anos e vejam que toda a ocupação que tinham não resultou em nada. Anos e anos de trabalho, sacrificando a própria vida em prol de um suposto futuro melhor, para, quando chegar a determinada época, perceber que não se viveu.
Sêneca compara a vida a uma viagem em que lemos ou conversamos: quando nos distraímos, tudo passa rápido, sem que percebamos que a viagem já está no fim. Assim, o filósofo diz, criticando os ocupados:
Assim é o caminho da vida, incessante e muito rápido, que, dormindo ou acordados, fazemos com um mesmo passo e que, aos ocupados, não é evidente, exceto quando chegam ao fim.
Estabeleça suas prioridades e corte tudo (ou a maior parte) do que não faz você chegar mais perto de seus objetivos. Não viva a vida dos outros, não se baseie em fulano ou ciclano para poder viver. A sua vida é sua, e você deve escolher: você será ocupado ou será produtivo?
Estabeleça suas prioridades e corte tudo (ou a maior parte) do que não faz você chegar mais perto de seus objetivos. Não viva a vida dos outros, não se baseie em fulano ou ciclano para poder viver. A sua vida é sua, e você deve escolher: você será ocupado ou será produtivo?
[…] somente o tempo presente pertence aos homens ocupados, tempo este tão breve que não pode ser alcançado e que é retirado deles já que estão distraídos com muitas coisas.
Essas são apenas 4 lições básicas que Sêneca nos passa em sua obra, Sobre a brevidade da vida. Ainda há muito mais a ser explorado: o que é o ócio que vale a pena, a importância dos estudos, como ter a imortalidade através dos livros, como aprender a morrer.
Apesar de ter vivido há mais de 2 milênios, podemos aprender muito com esse filósofo. Suas lições são essenciais para que tenhamos uma vida bem vivida.
Essas são apenas 4 lições básicas que Sêneca nos passa em sua obra, Sobre a brevidade da vida. Ainda há muito mais a ser explorado: o que é o ócio que vale a pena, a importância dos estudos, como ter a imortalidade através dos livros, como aprender a morrer.
Apesar de ter vivido há mais de 2 milênios, podemos aprender muito com esse filósofo. Suas lições são essenciais para que tenhamos uma vida bem vivida.
Fonte do conteúdo: https://medium.com/@willianmelo/sobre-a-brevidade-da-vida-4-dicas-de-s%C3%AAneca-para-uma-vida-boa-3cfeb7270b88