“A minha moralidade, a moralidade da razão, está contida num único axioma: a existência existe – e numa única escolha: viver. O restante decorre dessas duas coisas. Para viver, o homem precisa de três coisas como valores supremos e dominadores de sua vida: razão, determinação e amor-próprio. Razão, seu único instrumento para adquirir conhecimento; determinação, sua escolha da felicidade que esse instrumento busca realizar; amor-próprio, sua certeza inabalável de que sua mente tem competência para pensar e sua pessoa merece a felicidade, ou seja: merece viver. Esses três valores implicam e requerem todas as virtudes do homem, e todas elas decorrem da relação entre existência e consciência: racionalidade, independência, integridade, honestidade, justiça, produtividade, orgulho. ”
Este trecho foi retirado do discurso proferido pelo personagem John Galt no livro “A Revolta de Atlas”.
É muito interessante que no decorrer de sua fala, Galt discorre sobre Princípios naturais que regem a nossa vida, e talvez este seja um dos mais belos discursos já escrito em livros de ficção. Mas a grande pergunta que fica é: você sabe o que significa ter princípios e valores? Você sabe a diferença (sutil, quase imperceptível) que existe entre os dois?
Como Stephen Covey, autor do livro ‘Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes’, acertadamente notou, nós vivemos em uma época que vive no Paradigma da Personalidade e não do Caráter.
“Eitcha… Vinícius, eu não entendi lhufas do que você falou. Fala mais bonitinho aí pra gente entender, valeu? ”
Pode deixar, jovem. Vou explicar melhor.
Antigamente – e falo bem antigamente mesmo, antes das duas Grandes Guerras – os pensadores e filósofos ressaltavam a necessidade de termos uma vida interior bem desenvolvida para que pudéssemos então dominar o mundo. Aristóteles, por exemplo, (olha ele aqui de novo gente!) Ressaltava a necessidade de alcançarmos as virtudes para que pudéssemos viver em sociedade.
E o que são as virtudes?
Acredito que tanto Ayn Rand quanto Aristóteles responderam essa questão impecavelmente bem. De acordo com o filósofo grego, virtude significa a sua disposição para fazer o bem, e esta seria aperfeiçoada através do hábito – que, aliás, já falamos sobre essa questão do hábito neste artigo aqui -.
Os pós-modernos (ou progressistas, chame-os como você quiser) gostam de ressaltar que não há verdades universais e que a razão é falha para tentar compreender a natureza. Portanto, na concepção destes pensadores, não há uma moral ética definida e tão pouco há a possibilidade de dizermos o que é certo ou errado. De acordo com eles isso deve ser definido conforme as necessidades assim exigem.
Desnecessário dizer que esse tipo de pensamento nos levou a inúmeras confusões e erros de julgamento, e atualmente podemos sentir com mais força os impactos negativos desse tipo de mentalidade. A verdade é que existem sim valores que nos aproximam de uma vida mais honesta, produtiva e feliz. Ninguém pode negar que a adoção de princípios como a Integridade, a Coragem, a Responsabilidade, a Justiça e a Racionalidade são fatores essenciais para a sobrevivência e estabilidade de qualquer sociedade. Afastar-se destes princípios, implica em causar a desintegração parcial e até mesmo a degeneração das instituições que compõem os agrupamentos humanos.
Duvida?
Experimente viver uma vida baseada na preguiça, na mentira, na covardia, na inutilidade e mediocridade para ver quais são as consequências. É isso que são Princípios: são verdades auto-evidentes por si. Tratam-se de verdades profundas, fundamentais, cuja aplicação tem validade universal. Servem tanto para indivíduos e famílias como para organizações públicas e privadas, independente da situação ou época em que são aplicadas.
Estas verdades não podem ser criadas de acordo com nossas necessidades ou conforme a vontade da maioria assim estabelece. Por exemplo, o Princípio do Direito à Vida e a Inviolabilidade da Dignidade Humana não pode ser derrubado em decorrência de convenções coletivas. As pessoas podem discutir sobre a maneira como estes princípios serão respeitados, divulgados ou atingidos, mas jamais podem tentar construir uma sociedade harmoniosa (ou uma vida feliz) estando em divergência com tais princípios.
Os pais fundadores americanos em sua Declaração de Independência dos Estados Unidos compreendiam bem este conceito. Logo no começo da Declaração afirmaram que “estas verdades são evidentes por si: todos os homens foram criados iguais, e dotados, […], de determinados direitos inalienáveis, entre os quais se encontram a vida, a liberdade e a busca da felicidade”.
Então é neste ponto que podemos diferenciar os Princípios dos Valores.
Enquanto os Princípios são verdades profundas, fundamentais, cuja aplicação é universal, os valores são práticas e hábitos. Uma prática é uma atividade ou uma ação específica. Uma determinada prática pode funcionar ou não em determinada circunstância. Um bando de ladrões pode adotar um sistema de valores interno, mas estarão em total divergência com os Princípios inalienáveis – e não demorará em que sofram as consequências disso com a dissolução total ou parcial do grupo.
Quando valorizamos as práticas corretas, nos aproximamos da Verdade e abrimos uma maior possibilidade de termos uma vida virtuosa, harmoniosa e feliz. Descobrir quais são as práticas que devemos valorizar não é uma tarefa fácil. Somente através da experiência, da tentativa e erro, podemos pouco a pouco solidificar um sistema de valores que tornarão nossa vida (e a dos outros que convivem conosco) mais fácil e produtiva.
Daí advém a necessidade de valorizarmos nossa cultura, nossas instituições, hábitos e tradições. Pois elas são resultado direto da experiência de milhares de homens e mulheres do passado enquanto tentavam adotar os valores corretos. Muitas vezes as razões de determinadas instituições, tradições, costumes que chegam até a nós não são tão evidentes em uma primeira análise. Mas quando compreendemos a ordem social como resultado da evolução baseada na adaptação, através do esforço de milhares de homens e mulheres mediante o processo de tentativa e erro, com experiências transmitidas de geração em geração na forma de conhecimento explícito ou incorporada em instituições e ferramentas que se revelaram superiores, é que compreendemos a importância da Tradição e da Cultura em nos aproximar dos Princípios Corretos.
Então finalmente chegamos a cereja do bolo. O que eu quis dizer lá em cima com o
Paradigma da Personalidade e o do Caráter?
Após o advento do pós-modernismo, os pensadores começaram a questionar a razoabilidade dos Princípios tidos como ‘invioláveis’. Afirmaram que tais ideias serviam apenas para justificar a existência de uma determinada sociedade e que tudo não passava de uma briga de classes onde o opressor justificava seu poder através das Tradições. Através de um imenso trabalho de “desconstrução”, eles chamaram os valores corretos de meras ‘virtudes burguesas’, declararam a razão como seus inimigos, rejeitaram princípios de objetividade nas ciências e alimentaram um profundo desprezo pela tradição ocidental.
Essa linha de raciocínio abriu uma perigosa margem para que as pessoas abandonassem totalmente a ética do caráter e adotassem a da personalidade. Antigamente, acreditava-se que sua vida correspondia exatamente a quem você era no interno. Ou seja, se você cultivava os valores corretos, iria colher bons frutos e ponto final. Até mesmo Jesus declara esta verdade em Mt 7-17 onde ele afirma que “Toda árvore boa dá bons frutos, toda árvore má dá maus frutos”.
Havia a consciência de que o sentimento de auto-realização não poderia vir antes do labor. Você não pode cultivar as características erradas e esperar receber bons resultados em sua vida por isso através da manipulação. Infelizmente, após as duas Grandes Guerras, os ideais progressistas solaparam esta ideia e passaram a dizer para as pessoas que elas poderiam ter o que quisessem, e que não era direito delas buscar a felicidade, mas era seu direito ter a felicidade. Enquanto os pais fundadores americanos tentaram ensinar ao seu povo que eles deveriam tomar uma atitude para serem felizes, os pós-modernos ensinaram que você deveria ser feliz pelo simples fato de existir como ser humano.
Foi então que mudamos o Paradigma do Caráter que ensinava que para ser uma pessoa de resultados você deveria cultivar os valores corretos, para o Paradigma da Personalidade que ensina que se você adotar as técnicas certas (desprendidas de quaisquer valores) irá obter os mesmos resultados daqueles que cultivam os bons hábitos. Afinal, se fosse verdade que era possível colher bons frutos apenas adotando as técnicas corretas, estaria comprovado que não existem tais princípios auto evidentes e que qualquer um pode obter os melhores resultados apenas modificando sua atuação.
A ênfase na técnica (e não no ser) funciona apenas no curto-prazo, enquanto no longo produz resultados ineficientes. Podemos adotar milhares de estratégias para influenciar pessoas ou conquistar o amor delas, ou até mesmo adotar táticas que levem os outros a aceitarem nossas vontades, mas se seu caráter interno apresenta falhas profundas, e está marcado pela falta de sinceridade, então você estará inevitavelmente fadado ao fracasso no longo prazo. Não demorará as pessoas perceberem que há uma incongruência na mensagem que você passa. Simplesmente não faz diferença a qualidade da técnica empregada se você não cultiva boas intenções e se não passa pelo difícil processo de lapidar o seu ser interno.
Aceite. Não existem atalhos para o sucesso.
Infelizmente, nos dias atuais, as pessoas querem receber amor independente de acharem que mereça ou não. Pedem para ser amada pelos seus defeitos e não pelas suas qualidades. Dizem que o verdadeiro amor aceita qualquer vício, qualquer erro, qualquer falha de caráter. Afirmam que não se pode amar alguém apenas pelo que há de bom nele. Nada poderia ser mais falho. É exatamente esse tipo de raciocínio que dá origem aos relacionamentos abusivos que vemos acontecer no dia-a-dia. O amor é algo bom e, portanto, não pode ser complacente com falhas de caráter. Aqueles que querem ser amados sem merecer se tornarão pedintes, dependentes e carentes, e provavelmente irão se envolver em relacionamentos íntimos com o seu equivalente: pessoas tão ciumentas, possessivas e dependentes de aprovação quanto.
O pós-modernismo tentou inverter a ordem natural das coisas e quis ensinar as pessoas que para que elas alcançassem seus sonhos, elas primeiro precisariam ter, pois só assim elas ficariam livres para fazer, para finalmente serem. Ou seja, nessa lógica você precisaria TER a técnica certa, para então APLICÁ-LA em sua vida e só assim você SERIA o grande sucesso que você nasceu para ser. Por exemplo, se você não tem dinheiro, você precisa primeiro ter grana, para então poder fazer empresas e começar um projeto próprio, para só assim ser o grande empreendedor que você sempre quis ser.
Essa ideia permitiu que o marxismo despontasse como filosofia dominante em boa parte do século passado na mente dos intelectuais – e até hoje ainda é assim. Afinal, se as pessoas não podiam ter dinheiro, como elas poderiam alcançar a plenitude da vida? Elas não podiam ser verdadeiramente realizadas se elas não tivessem as oportunidades adequadas. Na concepção deles o mundo era injusto e ninguém era responsável pela situação ao qual estava submetido. Se ninguém te dava oportunidades, você não poderia fazer coisas grandes e então ser reconhecido por isso. Os marxistas pensaram então que era necessário garantir a igualdade entre as pessoas para só então podermos garantir que todos seriam felizes, ou nas palavras do próprio Karl Marx “de cada um de acordo com suas capacidades a cada um de acordo com suas necessidades”.
Desnecessário destacar o fracasso e a completa dissolução que as sociedades que passaram pela experiência comunista obtiveram, certo?
A verdade é que se você quer ter sucesso na vida, precisa antes ser, para então fazer e finalmente ter. Ou seja, você precisa antes ser uma pessoa de valores e virtudes, o que vai permitir que você faça e persiga as coisas corretas, da melhor maneira possível para só então você ter o sucesso que sempre sonhou. Posso citar como exemplo, você antes precisa ser uma pessoa que assume a responsabilidade pela sua vida e por tudo que acontece nela, para só então você começar a fazer seus projetos, independente das dificuldades que apareçam na sua vida, para que só no final de tudo, você consiga ter o sucesso que você sempre sonhou. E se você não alcançar esse sucesso, você assumirá a responsabilidade pelo seu fracasso, analisará onde errou e então partirá para a ação para uma próxima jornada contando agora com mais experiência e a certeza de que dessa vez você irá obter a vitória.
“Bacana Vinícius, legal… Mas e aí… Quais são estes princípios naturais e evidentes? ”
Esta pergunta vou deixar em aberto para ser respondida no próximo artigo. Mas me diga você, leitor. Quais são os princípios que você acredita serem necessários seguir para termos uma vida plena, feliz e realizada?
Fonte do texto: https://osegredo.com.br/2016/09/diferenca-entre-principios-e-valores/ - Fonte da imagem: google/internet
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