Não se iluda: na teoria todo mundo é perfeito e à distância todo mundo é acessível. Bem-vindo "aos tempos modernos".
Infelizmente, constatar na prática o que tenho sustentado nos últimos tempos é, no mínimo (e na melhor das hipóteses), frustrante. Nos dias atuais onde a informação é tão fluída e inconstante, não é raro nos depararmos com a perfeição virtual. Tudo é lindo na rede – basta o aplicativo certo. Assim como todas as pessoas são acessíveis, disponíveis, prontas para dar bom dia, boa tarde, boa noite, e outros comentários não tão bons assim. Você acaba de postar algo e em segundos as curtidas aparecem. Seu ego inflama - sua carência por atenção desaparece. Eita mundo bom, feito de pessoas atenciosas, interessadas e disponíveis – para o bem e para o mal, diga-se de passagem.
Pena que as mesmas pessoas que estão sempre on-line passam por você na rua e sequer notam sua presença. Seria a culpa do filtro? Acho que não (se bem que eles confundem).
A culpa como sempre é das nossas expectativas, da nossa irremediável capacidade de confundir criador e criatura.
Se na obra de Robert Louis Stevenson o médico era o estado natural do personagem, algumas constatações me levam a crer que nos tempos atuais, a monstruosidade de cada um está travestida de mega bytes.
Fonte do texto: http://obviousmag.org